Capítulo VI

Lui não parou de pensar nas piores possibilidades desde que ele e a Ana transaram. Pensar em ter um filho aos 15 anos era uma coisa horrível! Como eles cuidariam de uma criança, se eles não sabiam cuidar nem deles mesmos?

Nenhum deles tinha um trabalho, ou seja, os pais teriam que sustentar o bebê. E a escola? Estudar já era bastante complicado sem ter um filho que chora a noite toda e que você tem que cuidar o dia todo. Mas o pior era a faculdade.

Lui sempre sonhou em fazer faculdade fora, passar em uma universidade pública, em outra cidade, sair da casa dos pais e aproveitar a vida morando em republicas. E agora? Lui achava que o maior sonho da sua vida ele mesmo tinha jogado fora sem pensar duas vezes.

Ele ficou com muita raiva dele mesmo, da sua irresponsabilidade. Ele era uma criança até pouco tempo atrás, e na verdade, jogar vídeo-game ainda era um de seus passatempos preferidos.

Ele e a Ana andavam não se falando muito, eles conversaram sobre o que eles fariam, mas parecia que todo aquele amor tinha evaporado e sido substituído por estresse. Lui tinha conversado com os amigos e pesquisado na internet, mas nada que o acalmasse. Ele achou que precisava falar com alguém que realmente entendesse do assunto.

Naquele dia a aula de biologia foi sobre a gametogênese, e Lui viu a oportunidade e a pessoa perfeita para conversar. Depois da aula ele pediu a Professora Paula para tirar algumas dúvidas e ela se prontificou a responder a todas.

Ele contou o que havia acontecido e perguntou se podia haver a possibilidade de uma gravidez. A professora foi firme, mas não o julgou, pois ela sabia como eram os adolescentes e o quão apavorado o menino devia estar.

Ela explicou sobre o ciclo menstrual e sobre o período fértil da mulher, e disse que se a Ana estivesse em seu período fértil quando eles tiveram relações sexuais era possível que acontecesse uma gravidez sim. Ela perguntou se ele sabia calcular o período fértil e ele disse que sim, mas que a Ana não sabia a data exata das menstruações passadas para eles terem certeza. Paula o instruiu a levar a Ana para fazer um exame se a menstruação dela atrasasse.

Parecia que a cabeça dele iria explodir com tanta preocupação. A uma semana ele só pensava em namorar e nos seus jogos, agora tudo isso era secundário.

Ele contou a Ana o que a professora disse e eles decidiram que no prazo mínimo para se fazer um teste de farmácia, que era pelo menos dois semanas após a relação sexual, eles iriam comprar um e fazer imediatamente.

Mas esperar era horrível, era isso que o Lui não gostava.

 A produção dos gametas

Você sabe quantas células você tem no corpo todo?

São aproximadamente 100 trilhões de células que formam você.

Você sabe como elas apareceram?

Como você começou a existir?

Acho que você já deve ter ouvido aquela historinha da “sementinha que o papai colocou na barriga da mamãe, encontrou com a sementinha dela e formou você”. Bom, isso é realmente verdade, o encontro das “sementinhas” forma uma célula chamada zigoto, e é daí que  vem todas as nossas células, por meio de divisões sucessivas.

As sementinhas na verdade chamam-se gametas, e tem um papel fundamental na reprodução por serem diferentes das outras células do nosso corpo. Os gametas são as células reprodutivas, logo precisamos de dois gametas para formar um indivíduo, um do pai e um da mãe. Mas por que duas células são necessárias?

As células do nosso corpo, chamadas células somáticas, possuem um total de 46 cromossomos, enquanto que as células reprodutivas (os gametas) possuem só 23. Então quando esses dois gametas se juntam, unem 23 cromossomos que vem da mãe (que estão no óvulo), com 23 cromossomos que vem do pai (que estão no espermatozoide), e formam um zigoto, com 46 cromossomos, que dará origem à todas as outras células que farão parte desse indivíduo que acabou de se formar.

Agora vamos entender melhor como é que esses gametas são formados e como se diferenciam em outras células.

Para isso, precisamos entender como as células se dividem.

Há duas divisões que as células fazem são Mitose e Meiose. Elas são diferentes, pois quando a célula passa pela mitose, ela não irá reduzir seu número cromossômico. Como assim?

Lembram dos 46 cromossomos? Para ficar mais fácil, vamos chamá-los de 2n. Quando uma célula somática  se divide para dar origem a 2 células somáticas, o número de cromossomos que ela carrega deve ser mantido, as 2 células formadas deverão ter 46 cromossomos (2n). Então, para que isso ocorra antes de se dividir a célula dobra o seu número de cromossomos e só então se divide, dando origem a duas células 2n.

Quando a célula é uma precursora dos gametas, ela não pode formar gametas com 46 cromossomos. Então ela passa pela Meiose, que reduz o número de cromossomos de 46 para 23, de 2n para n. Entenderão?

Vamos agora ver como os gametas masculinos e femininos são formados.

Os gametas masculinos e a produção de espermatozoides:

A partir da puberdade, geralmente aos 12 anos, os meninos começam a produzir espermatozoides. Os espermatozoides são células únicas diminutas, muito menores que o ovócito feminino. Possuem uma cabeça onde está localizado o núcleo, que é onde se encontram a informação genética para a formação de um novo organismo, os cromossomos.

Além do núcleo, na cabeça do espermatozoide se localiza uma espécie de bolsa onde estão contidas enzimas (acrossoma). Essas enzimas são muito importantes no processo da fecundação, pois o ovócito possui uma camada protetora em sua volta, e são essas enzimas que possibilitam a penetração no ovócito e assim ocorre a fecundação.

Depois da cabeça, o pescoço do espermatozoide é uma pequena área de ligação entre ela e a peça intermediária, onde estão localizados os centríolos. A peça intermediaria é uma parte muito importante na célula reprodutora, pois possui um elevado número de mitocôndrias, que são organelas responsáveis por gerar energia para a locomoção da célula, proporcionada pela cauda do espermatozoide. O objetivo do gameta é fecundar o ovócito, e para isso ele precisa ser o mais rápido, pois somente um único espermatozoide penetra e fertiliza o gameta feminino, o que requere um movimento muito potente de sua calda.

Como já mencionado, os espermatozoides são produzidos nos testículos após a puberdade. A produção dos gametas masculinos é chamada de Espermatogênese e se refere ao evento da transformação de espermatogônias, as células mais primitivas, em espermatozoides.

No interior dos testículos existem aproximadamente 900 túbulos seminíferos, dentro dos quais são produzidos os espermatozoides. Esses túbulos quando se juntam formam um canal eferente que se dirige ao epidídimo. As células primordiais, chamadas de espermatogônias, estão presentes no interior dos túbulos seminíferos, junto com as células de Sertoli, e entre os túbulos então as células secretoras de testosterona, chamadas de células de Leydig ou também intermediárias.

A partir da puberdade o hipotálamo induz a produção dos hormônios LH e FSH pela hipófise. O LH produzido irá estimular a produção de testosterona pelas células de Leydig e o FSH irá propiciar o desenvolvimento dos gametas masculinos.

 O FSH irá estimular o período germinativo, que consiste em gerar 4 células a partir de 1, por meio de duas mitoses consecutivas (essa divisão mantém o número de cromossomos em 2n).

Como assim?

Umas célula passa por uma Mitose e gera duas células 2n. Essas duas células formadas passam por mitose novamente e cada um se divide em outras duas células 2n, dando no total quatro células germinativas primordiais chamadas de espermatogônias.  Em seguida vem o período de crescimento, no qual essas espermatogônias irão aumentar de tamanho e formar espermatócitos primários. Ocorre então o período de maturação, que é marcado pelas divisões meióticas. Um espermatócito primário (que possui 46 cromossomos, é 2n) irá passar pela meiose I e formar 2 espermatócitos II (que possuem 23 cromossomos, são n), em seguida acontece a meiose II, e os espermatócitos secundários dão origem a 2 espermátides (n), com ¼ do tamanho dos  espermatócitos primários.

Após o período de maturação, ocorre o período de diferenciação, que consiste na espermiogênese, processo de diferenciação de espermátide em espermatozoide. Esse processo é longo, pode levar até 64 dias e se dá da seguinte maneira:

Grande parte do citoplasma da célula se perde, e do centríolo, começa a se formar o flagelo. O acrossomo deriva-se do complexo de golgi e as mitocôndrias agrupam-se na região da peça intermediária, entre o pescoço e o flagelo. O núcleo, contendo o conteúdo genético do pai, não se modifica.

Finalizado o processo de produção dos espermatozoides, estes ainda encontram-se imaturos. Após passarem para o epidídimo, um longo túbulo único, que é onde eles desenvolvem mobilidade e tornam-se mais resistentes à variação de temperatura e pH, condições presentes no trato feminino. Por volta de duas semanas no interior dos epidídimos os espermatozoides estão prontos para fertilizar o ovócito feminino.

Óvulos, a produção e maturação dos gametas femininos:

Os gametas femininos são produzidos na fase embrionária, ainda dentro da barriga da mãe, e essa fase recebe o nome de ovulogênese ou ovogênese. Diferentemente do que acontece com os homens, que produzem inúmeros gametas com diferentes cromossomos sexuais ( X e Y) desde a puberdade até o fim da vida, a mulher nasce com um número limitado de ovócitos primários ou ovócito I, sendo que pelo menos metade desse ovócitos se degenerarão ao decorrer da vida da mulher . Todos os óvulos terão o cromossomo X , pois durante a divisão dos 46 cromossomos para os 23, a mulher irá dividir sua carga sexual (XX), logo cada óvulo formado será apenas X.

O processo é parecido com a formação dos espermatozoides até o período de crescimento. Uma célula germinativa (com 46 cromossomos, 2n) passa por uma mitose e gera duas novas células 2n, que nesse caso são chamadas de ovogônias. A ovogônia passa por uma nova mitose e forma 2 novas ovogônias, também 2n. Há a fase de crescimento e a ovogônia se transforma em ovócito primário e assim ele irá permanecer até que a menina entre na puberdade.

Quando essa fase chega e os hormônios LH e FSH começam a entrar em ação, a menina passa a ovular. Todo mês um dos ovócitos primários irá passar por um processo de maturação. Nesse processo este ovócito passa pela primeira meiose, e ao contrário dos espermatozoides, ela gera um ovócito secundário ou ovócito II e um corpúsculo polar (muito pequeno em relação ao ovócito II). Somente um desses ovócitos secundários será expelido do ovário, que é o que chamamos de óvulo. Quando esse ovócito II se encontra com o espermatozoide e há a fecundação, ocorre muito rapidamente a meiose II, terminando assim sua maturação. O corpúsculo polar I também sofre meiose e produz dois glóbulos polares, esses três glóbulos polares degeneram.

Logo a célula germinativa feminina só termina seu desenvolvimento quando há fecundação, ocasionando uma gravidez e forma um óvulo a partir de uma célula germinativa ao contrário dos espermatozoides, onde 4 são formados a partir de 1 única célula germinativa. Quando esse encontro não acontece, depois de aproximadamente 14 dias da ovulação tem início a menstruação. Isso ocorrerá todo mês na vida da mulher não grávida até que esta entre na menopausa, quando os óvulos já não estão viáveis ou já foram todos expelidos.