Capítulo VII

Lui acordou na manhã de terça-feira com seu celular tocando ás 6 da manhã. Era a Ana, já tinham duas chamadas perdidas no celular.

Ele ficou apavorado, ela tinha comprado o teste sem contar pra ele, feito e deu positivo e eles iam ter um filho daqui a nove meses – ele pensou. Ele relutou muito pra atender o celular, como se não ouvir a notícia imediatamente fosse fazer com que ela simplesmente não fosse verdade.

A Ana desistiu na quarta ligação. Ele ficou lá na cama, olhando pro celular e pensando em como ele era tonto. Primeiro por ter transado sem camisinha, e depois por fazer a Ana passar por isso. Ele andava tão mal-humorado nessas duas ultimas semanas que até seus colegas da escola tinham se afastado dele.

Ele andava de cara amarrada pra todos os lados, não fazia questão de conversar com ninguém na escola e nem de ser escolhido pro jogo de futebol. Ele queria sumir.

Mas ninguém que ele conhecia fazia chá de sumiço, então se levantou e se aprontou pra ir pra aula.

Chegando a escola ele queria evitar todo mundo, então foi direto pro banheiro até o sinal tocar, assim ele entraria atrasado na aula e ninguém falaria com ele. Durante a aula eles tinham que ler um texto sobre a formação do aparelho reprodutor, mas ele não parava de criar mil e um diálogos imaginários sobre como a Ana contaria pra ele. Porém ele encarar as consequências dos seus atos e assumir tudo o que ele tinha feito sem pensar claramente, quando ele se deixou levar pelas emoções e pelos seus hormônios de adolescente.

Quando o sinal para o intervalo tocou, ele estava decidido a falar com a Ana, porque adiar não era remédio pra nada, e saber se ele ia ser mesmo pai.

“Pensar em alguém me chamando de papai me dá até arrepios”, ele pensou enquanto andava até ela.

- Oi Ana.

- Oi Lui, tudo bem? Te liguei de manhã e você não atendeu...

- Ah, desculpa, não vi... Mas o que você precisava me falar antes da aula?

- Bom, eu precisava te falar que saindo da escola eu preciso ir na farmácia comprar... Absorventes – Ela sussurrou.

Lui franziu as sobrancelhas como que pra entender melhor o que ela estava dizendo, mas o que entrava por um lado, saia pelo outro como um zumbido.

Ele ficou pensando que aquela era uma frase fácil de entender, parecia que ele tinha levado um choque e queimado as conexões de seus neurônios.

- Lui? Você entendeu? Eu menstruei.

- Ah.. AAAAAAHHHHHH!!!!!!!!

Ana riu muito da cara de alívio do Lui, parecia que ela tinha tirado as 300 milhões de toneladas que estavam nas costas do Lui.

- Sério mesmo? Você tem certeza?

- Ô se tenho...

Ela fez uma careta, mas sorriu pra ele.

E ele sorriu de volta, finalmente, depois dos 10 dias mais longos da sua vida.

A felicidade que foi se espalhando pelo corpo todo dele era quase tangível, parecia que uma aura estava se espalhando a partir dele. Eles se abraçaram e continuaram abraçados por bastante tempo. E o Lui disse que amava a Ana, e que eles nunca mais iam fazer uma coisa irresponsável dessas de novo. Ela concordou antes que ele terminasse a frase e eles riram juntos.

Era como se o mundo voltasse a ser colorido de novo para o Lui, e seus amigos perceberam na hora, sem ele precisar falar nada. Foi uma troca de olhares e pronto, pois eles também estavam apreensivos pelo amigo.

Lui voltou pra casa pensando em como quase tudo que ele havia planejado por pouco não foi por água a baixo, e em como transar exigia mais responsabilidade. Que aqueles 10 minutos podiam ter mudado a vida dele, da Ana, dos seus pais e até dos seus amigos.

Ele percebeu como a vida é complexa e como todos os nossos atos traziam consequências. E fez um pacto com ele mesmo.

NUNCA mais fazer nada sem pensar, não duas, mas pelo menos 3 vezes no que aquilo podia resultar, não só naquele exato momento, mas em todos os anos de sua vida.