Fluxo Sanguíneo

Já que o sistema cárdio-circulatório é um sistema fechado e preenchido por sangue, como o sangue flui?

Para entendermos, vamos lembrar que um líquido só pode escoar por dentro de um vaso se existir uma diferença de pressão entre as extremidades deste vaso. Do contrário não haverá movimento deste líquido. Devemos lembrar que as artérias apresentam diferenças morfofuncionais em relação às veias. Também devemos ter em mente que pressão de um líquido é a força que este exerce sobre uma determinada área (ou espaço). Do lado arterial pela presença de mais tecido muscular liso e fibras elásticas existe uma pressão maior do que no lado venoso. Em uma pessoa adulta normotensa (pressão arterial normal) a pressão arterial média é de 120 por 80 mmHg, popularmente o termo 12 por 8 ficou consagrado. Essa pressão é gerada pela força do coração durante sua contração (sístole), somadas a resistência (dificuldade) que a camada muscular lisa das artérias oferece para acomodar o sangue, bem como o volume de sangue no dentro dos vasos. A possibilidade de desenvolver grandes pressões dentro deste sistema tornou possível a condução do sangue por grandes distâncias.  

A cada batimento cardíaco o ventrículo esquerdo impulsiona aproximados 70 mL de sangue na artéria aorta (primeira grande artéria da circulação sistêmica). Estes 70 mL devem ocupar uma área, relativamente pequena. A medida que o sangue se distancia do coração para os tecidos, temos novos vasos, várias arteríolas. A área aumenta para aquele mesmo volume. Nestes novos vasos apesar do calibre ser menor que o da aorta, eles estão em número muito grande, onde aquele volume inicial é dividido (mesmo volume), porém numa área maior. Posteriormente, temos os capilares, onde apesar do pequeno calibre destes vasos seu número é imenso, fazendo com que aquele volume de sangue inicial tenha uma área muito extensa para ocupar. Para uma analogia, num adulto de 70 Kg, os capilares se enfileirados dariam para cobrir a área de quase 2 campos de futebol. Neste ponto da circulação a pressão é bem baixa, em torno de 7 mmHg.  Portanto, temos uma diferença de pressão entre o início da distribuição de sangue (artéria aorta) e a finalização (recolhimento pelos capilares). Essa diferença de pressão proporciona o escoamento do sangue entre os vasos. 

Como o sangue retorna ao coração?

Pensar como o sangue escoou até os tecidos foi simples. Mas e o sangue que irrigou nossos membros inferiores e que precisa vencer a força da gravidade para retornar, como isto ocorre?

Dos capilares, este sangue é impulsionado a retornar para o coração pelo próximo volume de sangue que chega até estes. Após os capilares o sangue percorrerá vênulas e veias. No lado venoso a pressão sanguínea é menor, já que a veias apresentam menos músculo liso e fibras elásticas, ou seja, oferecem menor resistência. A força da gravidade se opõe ao retorno do sangue para o coração. Para resolver isto a natureza criou uma particularidade.  As veias possuem válvulas que colaboram para que o sangue flua sempre no sentido de voltar ao coração.

Em adição, os músculos estriados esqueléticos colaboram para este retorno de sangue ao coração. Cada contração muscular favorece para que o sangue dentro das veias seja impulsionado no sentido do coração. Como se fosse um rolo sobre um canudo que só pode fluir em uma direção. Em nossa perna os músculos sóleo e gastrocnêmico colaboram muito nesta tarefa, especialmente quando estamos em pé.

Eles funcionam como se fossem “corações”, impulsionando o sangue da periferia de volta para o próximo batimento cardíaco. Mais uma razão para nos mexermos e nos exercitarmos colaborando com o sistema cárdio-circulatório.